Contexto da
Filosofia e Deontologia.
Ao abordar deontologia dentro do contexto da filosofia, precisamos
distinguir a filosofia da mitologia e da religião por sua ênfase em argumentos
racionais; por outro lado, diferencia-se das pesquisas científicas por
geralmente não recorrer a procedimentos empíricos em suas investigações. Entre
seus métodos, estão a argumentação lógica, a análise conceitual, as
experiências de pensamento e outros métodos a priori. A filosofia é, por
definição, o que se oferece, no seu todo, a todas as inteligências e só pode
existir por residir totalmente na natureza de cada ser humano.
Disciplinas
filosóficas.
Apenas para fins didáticos podemos dizer que a filosofia é dividida em
áreas de investigação específica. Em cada área, a pesquisa filosófica dedica-se
à elucidação de problemas próprios, embora sejam muito comuns as interconexões.
As áreas tradicionais da filosofia são as seguintes:
Filosofia
política: é o ramo da filosofia que investiga os fundamentos da organização
sociopolítica e do Estado. São tradicionais nessa área, as hipóteses sobre o
contrato original que teria dado início à vida em sociedade, instituído pelo governo,
os deveres e os direitos dos cidadãos. Muitas dessas situações hipotéticas são
elaboradas no intuito de recomendar mudanças ou reformas políticas aptas a
aproximar as sociedades concretas de um determinado ideal político.
Epistemologia ou teoria do
conhecimento: é a área da filosofia que estuda a natureza do conhecimento, sua
origem e seus limites. Dessa forma, entre as questões típicas da epistemologia
estão: “O que diferencia o conhecimento de outras formas de crença?”, “O que
podemos conhecer?”, “Como chegamos a ter conhecimento de algo?”.
Lógica é a área que
trata das estruturas formais do raciocínio perfeito – ou seja, daqueles
raciocínios cuja conclusão preserva a verdade das premissas. Na lógica são
estudados, portanto, os métodos e princípios que permitem distinguir os
raciocínios corretos dos raciocínios incorretos.
Ética ou
filosofia moral: é a área da filosofia que trata das distinções entre o certo e o errado, entre o bem
e o mal. Procura identificar os meios mais adequados para aprimorar a vida
moral e para alcançar uma vida moralmente boa. Também no campo da ética dão-se
as discussões a respeito dos princípios e das regras morais que norteiam a vida
em sociedade, e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar
essas regras e princípios. A palavra
"ética" é derivada do grego ἠθικός (ethos), e significa aquilo que pertence ao ἦθος, que significava "bom costume", "costume superior",
ou "portador de carácter".
Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência
a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as
ações morais exclusivamente pela razão.
Ética
Normativa é a investigação racional, ou uma teoria, sobre os padrões do correto e
incorreto, do bom e do mau, com respeito ao carácter e à conduta, que uma
classe de indivíduos tem o dever de aceitar. Essa classe pode ser a humanidade
em geral, mas podemos também considerar que a ética médica, a ética
empresarial, etc., são corpos de padrões que os profissionais em questão devem
aceitar e observar. Esse tipo de investigação e a teoria que daí resulta (a
ética kantiana e a utilitarista são exemplos amplamente conhecidos) não
descrevem o modo como as pessoas pensam ou se comportam; antes prescrevem o
modo como as pessoas devem pensar e comportar-se. Por isso se chama "ética
normativa": o seu objetivo principal é formular normas válidas de conduta
e de avaliação do caráter. O estudo sobre que normas e padrões gerais são de
aplicar em situações problema efetivos chama-se também "ética
aplicada". Recentemente, a expressão "teoria ética" é muitas
vezes usada neste sentido. Muito do que se chama filosofia moral é ética
normativa ou aplicada.
Ética aplicada é um estudo de ordem ética, que atua em um meio social, o seu
comportamento, e sua aplicação nesse meio. Nos anos de 1950 os meios de comunicação
vigentes e o público em geral já discutiam a ética da inseminação artificial e
de transplantes de órgãos que começavam a serem postos em prática.
Além da ética médica incluem-se em seu campo de pesquisa a bioética, a
ética da ciência, a ética econômica ou ética empresarial, a ética do trabalho,
a ética ambiental, a ética do futuro, a ética do direito, a ética política, a
ética da informação ou infoética, a ética dos meios de comunicação social, a
engenharia ética, a ética administrativa, a ética da técnica, a ética social, a
ética sexual e a ética animal.
Metaética.
Em filosofia,
meta-ética é o ramo da ética que procura entender a natureza das propriedades
éticas, enunciados, atitudes e juízos.
Meta-ética é
um dos três ramos dos éticos geralmente reconhecidos pelos filósofos. Os outros
são a ética aplicada e a ética normativa, Teoria ética e ética
aplicada formam a ética
normativa.
A meta-ética
tem recebido considerável atenção dos filósofos acadêmicos nas últimas décadas.
Enquanto as éticas normativas formulam as seguintes questões como “O que alguém
deve fazer?”, endossando assim alguns juízos éticos de valor e rejeitando
outros, a meta-ética formula questões como “O que é o bem?” e “Como podemos
dizer o que é bom e o que é mau?”, procurando entender à natureza das
propriedades e avaliações dos enunciados éticos.
Alguns
teóricos afirmam que certas considerações metafísicas sobre a moral são
necessárias para uma correta avaliação de teorias morais atuais e para a tomada
de decisões acerca da moral prática. Outros argumentam com premissas
contrárias, afirmando que nossas ideias morais advêm de nossas intuições na
tomada de decisão, antes de termos qualquer senso de uma moralidade metafísica(Garner, Richard T.;
Bernard Rosen (1967). Moral Philosophy: A
Systematic Introduction to Normative Ethics and Meta-ethics. New York: Macmillan.
pp. 215. LOC card number 67-18887).
Metafísica: ocupa-se da elaboração de teorias sobre a realidade e sobre
natureza fundamental de todas as coisas. O objetivo da metafísica é fornecer
uma visão abrangente do mundo – uma visão sinóptica que reúna em si os diversos
aspectos da realidade. Uma das subáreas da metafísica é a ontologia
(literalmente, a ciência do "ser"), cujo tema principal é a
elaboração de escalas de realidade. Nesse sentido, a ontologia buscaria
identificar as entidades básicas ou elementares da realidade e mostrar como
essas se relacionam com os demais objetos ou indivíduos - de existência
dependente ou derivada.
Estética ou filosofia da arte: entre as investigações dessa área,
encontram-se aquelas sobre a natureza da arte e da experiência estética, sobre
como a experiência estética se diferencia de outras formas de experiência, e
sobre o próprio conceito de belo.
Bioética(bios, vida + ethos, relativo à ética) é o estudo transdisciplinar entre
Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Filosofia (Ética) e Direito
(Biodireito) que investiga as condições necessárias para uma administração
responsável da Vida Humana, animal e responsabilidade ambiental. Considera, portanto,
questões onde não existe consenso moral, exemplos: a fertilização in vitro, o
aborto, a clonagem, a eutanásia, os transgênicos as pesquisas com células
tronco, bem como a responsabilidade moral de cientistas em suas pesquisas e
aplicações.
Atualmente, não existe de fato uma ciência bioética e deontológica
aplicada aos processos de envelhecimento. Os gerontólogos apresentam
dificuldades em encontrar orientações éticas nas suas condutas profissionais,
uma vez que não existem propostas consistentes de um código deontológico
baseado nas concepções filosóficas, nas preocupações dos profissionais e nas
investigações empíricas. Assim, os gerontólogos no Brasil, como nos países
ocidentais em geral , regem sua conduta profissional através da adaptação informal
de códigos deontológicos das outras profissões da área da saúde, com especial
ênfase no código deontológico dos médicos. Iniciamos o primeiro tomo do livro
da série apontando o presente discurso como finalidade de contribuir para
reflexões, no Brasil, no México e na Espanha de princípios para a construção de
códigos deontológicos, através de propostas de linhas de investigação
conceitual e empírica que sustentem teoricamente a criação do código de conduta
desta classe profissional. Na América Latina, na América do Norte e na Europa.
Atualmente, a prestação de cuidados à terceira idade é encarada numa
perspectiva de interdependência e responsabilização dos vários profissionais. A
evolução desta prestação de cuidados, tem valorizado a intervenção da melhoria
da qualidade de vida dos idosos e a minimização dos problemas éticos, a qual
exige maior envolvimento de todos os profissionais de saúde, com especial
enfoque nos gerontólogos. Neste sentido, os dilemas éticos decorrentes da
prática clínica deixaram de ser exclusivamente dos médicos, passando a ser
assunto que a todos os profissionais de saúde, sem exceção, diz
respeito(Braunack-Mayer. The Journal of Medical Ethics 2001; 27: 98-103).
A evolução dos cuidados tradicionalmente paternalista, para um novo conceito
que respeita a autonomia e a autodeterminação dos idosos, associada à
globalização, à investigação em bioética, ao crescente nível de exigência dos
idosos e suas famílias. Pricipalmente em relação à qualidade dos serviços que
lhes são prestados, às necessidades da população face aos recursos finitos e
também à crescente exigência das autoridades na prestação de cuidados a idosos
de qualidade, acaba por gerar novas situações que, consequentemente, conduzem
ao aparecimento de problemas éticos referentes a todos os profissionais de
gerontologia em todo o mundo.
Antes da conclusão podemos sugerir que a CONSTRUÇÃO DE UM CÓDIGO
DEONTOLÓGICO DOS GERONTÓLOGOS NO BRASIL, NO MÉXICO e na ESPANHA, PODE TER COMO
BASE UM ROTEIRO SUGESTIVO, A TÍTULO PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS fulcrando em
alguns pontos dialéticos. O desenvolvimento de um código deontológico que
regule as práticas profissionais e responda aos dilemas éticos no exercício
profissional dos gerontólogos deve ser, a nosso ver, alicerçado numa profunda e
exaustiva investigação do trabalho científico e técnico elaborado
anteriormente. A delineação de um código regulador deve basear-se em métodos
científicos de coleta, processamento e compreensão dos dados essenciais que
reflitam a realidade do exercício da gerontologia. Considerando o já exposto e
as pesquisas de revisões bibliográficas podemos sugerir a título de propostas
alguns aspectos comentados no quadro A1-quadro anexo 3, sendo que o processo de
construção do código deontológico deve seguir critérios e passos metodológicos
e científicos exigentes.

Com essa introdução buscamos introduzir alguns conceitos sobre a ética,
bioética e deontologia. Nos países como Portugal, Espanha, Brasil e México, bem
como na maioria dos países ocidentais, não existem códigos regulamentadores da
prática da gerontologia formalizados mediante lei legislativa. Entendemos que com
a mudança na estrutura populacional resultante do aumento exponencial da
esperança média de vida, as políticas públicas de assistência social têm direcionado
grande parte do seu orçamento e agendas interventivas para a promoção e
melhoria da qualidade de vida dos idosos. Devido a este fato social, o número
exigido de profissionais especializados na prestação de cuidados a esta faixa
populacional é cada vez maior (Dean P. Making codes of ethics).
No entanto, a regulamentação e fiscalização da qualidade das práticas
profissionais não tem acompanhado o aumento do número de gerontólogos em
exercício. Aliás, esta regulamentação é muito incipiente, o que pode levar ao
cometimento de práticas profissionais desaconselháveis e censuráveis.
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